sábado, 14 de fevereiro de 2009

Fale em libras no dia do amor.

Sábado, 14 de fevereiro de 2009. Sabiam que é o dia do amor? Estou em São Paulo e volto do cinema de metrô, na estação Santa Cruz. É impressão minha ou os trens do outro lado passam com muito mais freqüência? Nessa espera vejo um grupo grande de pessoas animadas. Elas gesticulam muito. Elas não ouvem. O trem do nosso lado finalmente chega, eu entro e sento, o grupo inteiro entra no mesmo vagão. Contei quantas estações até o meu destino. Acho que eram treze. Ia demorar um pouco.

Nesse pequeno tempo da contagem o vagão triste das 23:00h se transformou. Aquele grupo estava alegre, e tinha se multiplicado. Se antes pareciam 10, agora eram 20, e tinham se espalhado. Todos a minha volta, inclusive ao meu lado.

Enquanto as pessoas olhavam curiosas aquele estardalhaço silencioso eu tentava fingir que pra mim aquilo era casual. Acho que sempre faço isso na tentativa de mostrar naturalidade frente às diferenças. Mas no fundo aquilo tudo estava me incomodando. Dessa vez eu era a diferente ali. Eu podia ouvir a “voz do metrô” a cada nova estação. E aquilo não parecia mais privilégio. A sociedade me diz que sou normal porque posso ver, ouvir, sentir cheiros... Mas ali, naquele momento, eu era a única anormal.

Me senti deslocada. Peguei o fone de ouvido pra ouvir música no celular, imaginando se eles pensariam que era uma afronta: “olha só, ela está se exibindo só porque pode ouvir música”. Paranóia de constrangida. Eu sei que não pensaram isso. Então pensei em como deve ser não ouvir, e não só o barulho do mundo, mas como é não ouvir música. Eu que julgava impossível viver sem música. Qual é a música de quem não ouve? Como ela é? E acho que percebi como um diferente sozinho se sente. Porque vários diferentes juntos no fim das contas são iguais!

Eu estava meio constrangida, e meio perdida num monte de pensamentos. Quase perco o momento em que o grupo foi diminuindo. Em meio a sorrisos e a “tchaus” que não se resumiam a apenas balançar as mãos, um dos garotos veio se despedir da amiga que estava a meu lado, e tão naturalmente como com ela, me deu um beijo no rosto e se despediu também. A menina não entendeu. Talvez eu não tenha compreendido exatamente se aquilo foi um engano, mas não era isso que importava. Aquele beijo foi o “elemento-surpresa”, que me tirou dos meus pensamentos por um instante e me fez voltar a ser humana: igual a tantos, diferente de todos, mas enfim, dividindo um mesmo vagão.





PS: Depois disso eu vi uma mulher vestida de palhaça, mas séria, e com uma enorme bolsa da coca-cola; um menininho de Black Power; e um cara comendo migalhas de bolacha com resto de refrigerante sem gás. E eu tive vontade de chegar nele e dizer: “Oi! Você tem namorada?”. Mas eu não fiz.



PS II: Parabéns à tia Valéria, a aniversariante mais linda do dia do amor.

(Pâmella Cristina Zakrzewski. 15/02/09 – 00:05. O horário de verão acaba de acabar.)



3 comentários:

Bruno disse...

olá gostei do teu blog, aqui fica o meu:
http://actolivre.blogspot.com/

Anônimo disse...

quando somos diferentes do um todo igual a gente não se sente bem... é por isso que existem as "tribos" onde os diferentes passam ser iguais! mas a cupa do preconceito é genética... o que não é desculpa, mas fato! Beijos! E FALTOU VC NO ARROZ COM FRANGO DO NIVER DA MAMIS!!!!! BJS

Pâm Zakrzewski disse...

Ai que raiva de perder a frangada... =(